De bicicleta da Régua a Chaves pela Linha do Corgo

De bicicleta entre a Régua, Vila Real e Chaves (e possível continuação a Verín em Espanha) é uma ciclovia ou ecovia projectada há muito, sempre pela antiga linha de comboio do Corgo. Para Sul, esta ecopista poderia também ser alongada até Lamego.

Na realidade, em Setembro de 2020, é um trilho de aventura que na maior parte se pode efectuar sem problemas a pé. De bicicleta com alforges, só parcialmente o é de forma confortável.

Neste artigo, originalmente escrito em Português, vamos tentar mostrar o estado das coisas tal como vimos e pedalámos nas nossas últimas férias de bicicleta.

Efectuámos o percurso de Sul para Norte. De Lamego até à Régua a linha de comboio foi preparada, mas nunca posta em função. Nós descemos pela N2 que é bem mais rápido e não tem muito transito. Ao longe pode-se ver algumas construções ferroviárias que dão vontade de ir conhecer mais de perto, como esta ponte sobre o rio Varosa.

Ponte da inexistente linha de comboio Régua – Lamego

Ecovia Linha do Corgo – da Régua a Vila Real

Da ponte pedonal da Régua vai-se para Este durante pouco mais de 2km pela N313 direcção a Poiares e Vila Real (EM313). A estrada tem algum tráfego. Aqui pode-se começar a ir pela antiga linha de comboio. Não há indicações e parece-se assim:

Entrada na linha do Corgo, a partir da N313
Entrada na linha do Corgo, a partir da N313

Os primeiros metros são passáveis, mas rapidamente a vegetação é bem grande.

Eva perdida entre a vegetação

Algumas centenas de metros mais à frente passamos a primeira estação e pouco depois chegamos a uma ponte intransitável. Não há “chão”!

Ponte da linha do Corgo sem chão

A berma esquerda tem uns bons 40cm de largura, o que permite, para quem não tem receio de alturas, passar a pé ou com uma bicicleta sem alforges. Para nós, com as nossas bicicletas a fazerem uns bons 30-40kg, seria demasiado arriscado.

Há uma pequena ponte umas dezenas de metros mais abaixo que parece ser acessível atravessando um terreno privado, mas não temos a certeza que se pode subir do outro lado.

Nós subimos à plataforma da estação de comboio, onde parece morar alguém e há um cão de guarda preso que ladra muito, e daí regressamos à estrada. Esta divide-se aqui, e segue-se agora a EM598 que vai ao longo da linha de comboio.

Pouco mais à frente, ao chegar à Quinta dos Avidagos, há um caminho que permite descer de novo para a linha do Corgo.

O percurso agora é um estradão, ciclável, mas ainda com algumas grandes pedras que o tornam desconfortável em modo viagem. Em BTT e sem bagagem é perfeitamente praticável.

Chegada a Alvações do Corgo
Ecovia do Corgo ainda com muitas pedras

Passamos a estação de Alvações (do Corgo) e chegados à estação da Povação decidimos retomar a estrada, visto que a partir daqui estaríamos demasiado longe caso o terreno piorasse.

A estrada não tem muitos “sobe e desce” (poderia escrever “é relativamente plana”? 😊) subindo 150m mais alto que a linha de comboio, até Sabroso e até passar por cima da auto-estrada (que se vê ao longe), para descer novamente para Vila Real. Em Sabroso, no final da subida, há dois cafés para se refrescar.

Temos de ir até à auto-estrada!

Depois de passar a auto-estrada pode-se virar à esquerda para Folhadela e entrar de novo na linha do Corgo atrás da UTAD. Há menos pedras. À chegada a Vila Real há mais uma ponte, desta vez com “chão” que permite transitar de forma segura.

É possível fazer os 25km entre Régua – Vila Real de bicicleta, em grande parte pela antiga linha do Corgo, com algum esforço se temos bastante bagagem.

Por causa da ponte sem fundo no início do percurso, recomendamos fazer os primeiros 5km desde a Régua até à Quinta dos Avidagos, pela N313e EM598. A “ecovia” tem ainda muitas pedras desconfortáveis, mas a estrada EM598 é uma boa alternativa, mesmo que suba 150m mais alto que o necessário.

Ecovia Linha do Corgo – de Vila Real a Chaves

Pouco depois da antiga estação de comboios de Vila Real é possível entrar na antiga linha do Corgo. Há bastante gente que faz exercício ao longo do percurso, onde se vêem regularmente os carris.

Saída de Vila Real pela linha do Corgo

Num par de situações o percurso original é intransitável e tem de se seguir algumas centenas de metros a estrada empedrada paralela.

E agora, é por onde?

Mais tarde o caminho segue em estradão em boas condições, atravessando estradas onde se perde a prioridade.

Perto de Fortunho, depois de passar por baixo da auto-estrada, chegamos a um caminho asfaltado. Não há indicações, mas deve-se seguir pela estrada mais próxima da auto-estrada até passar novamente por baixo desta. Aqui há um estradão paralelo à estrada durante umas centenas de metros e pouco antes de uma rotunda segue-se por esse estradão e estamos novamente na linha do Corgo.

Metros após a antiga estação de Samardã há uma fonte e mesas de pedra escondidas uns 20m à esquerda, indicada quando passámos.

Chegamos ao concelho de Vila Pouca de Aguiar, subitamente o caminho é asfaltado. Uma verdadeira ciclovia! Nos cruzamentos a bicicleta tem quase sempre prioridade e não há barreiras.

Verdadeira ciclovia em Vila Pouca de Aguiar

O atravessar de Vila Pouca de Aguiar faz-se pela estrada, mas sem grandes problemas. Retoma-se a ciclovia logo depois. Por vezes há o típico (português) excesso de sinais, mas tudo continua muito agradável.

Passamos Pedras Salgadas – não falamos aqui da pausa obrigatória nos jardins – e seguimos pela ciclovia perto da N2 todos contentes da beleza do percurso. Findo o concelho de Aguiar da Beira, plof, fim do asfalto.

Exactamente no fim do concelho de Vila Pouca de Aguiar, termina o asfalto.

Mais um pouco e estamos no balast, obrigando a meio volta até ao último cruzamento e retomar a N2 até Oura.

No apeadeiro de madeira de Oura [obrigado pelas dicas José Luís Magalhães] podemos seguir de novo pela “Rua Linha do Corgo” até Vidago, em macadame de qualidade variável, sempre ciclável.

De Oura até Vidago o macadame está em condições

Lemos notícias de 2017 sobre uma empreitada de 3 meses para pôr o caminho da linha do Corgo ciclável entre Vidago e Chaves. Decidimos explorar.

No início com empedrado a imitar a linha de comboio, bonito mas desconfortável.

A idea é original, mas não para uma ecovia

Depois de sair de Vidago é macadame de boas condições e sem problemas até Vilarinho das Paranheiras.

Aqui seguimos erradamente em frente pela antiga linha de comboio. Cruzamos um BTTista que tinha feito o mesmo erro e, inexplicavelmente, não nos disse que este estradão, que segue ao longo da auto-estrada, não tinha saída!

Ou seja, há que virar à esquerda logo depois da estação de Vilarinho das Paranheiras e ir pelo asfalto.

Aqui, virar à esquerda, como a Eva!

Uma vez chegados do outro lado da auto-estrada, há que subir pelo não asfaltado. Aqui percebemos que os trabalhos da “ecovia” foi aplanar e por uma barreira de madeira que não serve para nada do lado esquerdo do caminho.

Seguir à direita.

Pouco mais tarde entramos novamente na linha do Corgo, numa viragem de quase 180 graus que é relativamente clara (procurar a barreira da madeira!)

E virar de novo à esquerda.

Chegaremos a uma ponte cimentada que tem os carris enterrados que ficou bonita.

Pouco depois chegamos a Curalha, onde a linha do Corgo infelizmente continua numa propriedade privada (fechada com um portão). Não há indicação nenhuma de continuação.

Fim da linha (ciclável). E agora?

Do outro lado do rio vemos um estradão a ser feito. Ainda tentamos ir por lá, mas, poucos quilómetros depois, o caminho é demasiado íngreme e sem qualidade.

Será por aqui?
Não parece…

Regressamos à Curalha e temos de ir pela N103 até Chaves, que tem algum transito rápido e em parte sem bermas.

No posto de turismo de Chaves confirmam: a “ecovia” termina a 4 km de Chaves. Sem quaisquer indicações.

De Vila Real a Chaves está quase tudo feito para se ir, em lazer, de bicicleta ou a pé.

Dos 70 km deste percurso na velha linha do Corgo, tem de se fazer uma descida de 5 km pela N2 pouco antes de Oura e os últimos 4 km, planos, pela N103 à chegada a Chaves. São poucos quilómetros pela estrada, mas a N103 é, na nossa opinião, demasiado perigosa para ir com crianças. É pena, todo o resto é fácil e bonito.

Ecopista Chaves – Verín

Para ligar duas cidades com tradição de águas termais, houve um projecto de ecopista entre Chaves a Verín. No posto de turismo apenas tinham folhetos em Espanhol (típico). Da “eco-coisa” apenas fizemos 7km até Vila Verde de Raia e o que se vê é uma abandonada estrada municipal mal aproveitada e com lixo. Ciclável. Tenho esperança que do lado espanhol seja melhor.

Porquê?
Os ciclistas (mesmo de lazer) merecem melhor.
Ecopista?

Conclusão

Ainda é possível melhorar o potencial do cicloturismo entre a Régua e Chaves. No concelho de Vila Pouca de Aguiar já há uma parte muito bem feita (nós talvez deixássemos 1m não asfaltados num dos lados para quem gosta de andar/correr sem aquecer demasiado os pés). A falta de indicações e caminhos que acabam no meio do nada continua a ser recorrente. Isto faz com que estas eco-coisas, no final, não tenham o sucesso que poderiam merecer.

Espero que o artigo seja útil. Actualizámos a informações em OpenStreetMaps para que Apps tipo OsmAnd e sites de routing, como o cycle.travel dêem boas indicações.

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